Stop! A Licença Maternidade

Em abril de 2002 entrou em vigor a lei 10.421 que garante licença maternidade remunerada para mães adotantes. De acordo com essa lei o período da licença é de acordo com a idade da criança adotada. Mas desde junho de 2012 a Previdência Social vem cumprindo uma decisão judicial que a obriga a pagar o benefício durante 120 dias independente da idade do adotado.

Eu nem imagino como poderia ser diferente. Pensa na sua vida virando de pernas para o ar. Pois é, é isso que acontece. Não dá pra manter a carreira como foco no momento que cai uma criança de paraquedas em casa. Acredito ser uma injustiça o que fazem com a família ao não permitirem que os homens também tenham um tempo para construir o ninho com a chegada de uma criança. A responsabilidade da mulher é grande demais sozinha. Sou uma felizarda porque o Age é autônomo e pode estar junto para essa difícil tarefa que tínhamos pela frente. Não sei como pais adotantes sozinhos ou casais homoafetivos fazem. Espero que essa situação mude algum dia.

Mas eu entendo claramente algumas diferenças entre as mães biológicas e adotantes nesse processo de licença maternidade. A mãe de barriga fica nove meses com o filho ali, crescendo. Todas que conheço dizem que é lindo, mágico, mas no final vc já está pedindo pelo amor de Deus pra nascer. A mulher fica pesada, sem posição e fisicamente debilitada pelo cansaço. Além disso, ela sabe com uma certa precisão quando é que a criança vai chegar e por isso consegue se organizar. Com a mãe de coração não tem nada disso. Um dia vc está aos berros em uma reunião com a equipe, super empolgada com um projeto que está no meio. No dia seguinte chega seu filho e tudo isso precisa ser bruscamente interrompido. Vc não está pesada, em outro ritmo, vc está no seu estado físico e mental normal. No meu caso, ligado no duzentos e vinte.

Eu trabalho desde os 15 anos. Nunca fiquei sem trabalhar. Estudei, me dediquei e trabalho na área que escolhi estar. Gosto muito do que faço. Sou dedicada, passional, sofro com os projeto, vibro quando dá certo. Alguns dizem que sou workaholic, mas eu acho que não chega a tanto.

Durante todo o processo de adoção eu sabia e fui preparando minha cabeça pra esse momento que teria que dar uma pausa em tudo pra cuidar da família. Mas eu não posso dizer que foi fácil.

Dei muita sorte da Tamires chegar bem próxima ao natal, uma época em que as agências de publicidade, que é meu ramo, estão mais tranquilas nos projetos. Mas eu ficaria fora 4 meses e pra esse ramo isso é uma eternidade. Clientes mudam, colegas mudam, chefes mudam e as vezes até o rumo dos negócios mudam em um prazo como esse. Eu estava assustada de ficar tanto tempo fora e com medo de não conseguir ficar sem trabalhar, de sentir falta, de sofrer.

Por outro lado, não via a hora de me dedicar plenamente a Tamires. Conhecê-la melhor e permitir que ela me conhecesse. Aprender a exercer o papel de mãe. Eu não tinha dúvidas que a Taimires era o projeto mais importante da minha vida.

Estava dividida e confusa. Nesse momento conversar com outras mães foi bem legal. Principalmente as que trabalham no mesmo ramo. Reconhecer que era o momento de construir meu ninho. Organizar uma nova rotina, entender como é ser plenamente responsável por outro ser.

Entreguei o documento dado pelo fórum como Guarda por Tempo Indeterminado juntamente com a certidão de nascimento original da Tamires na empresa. Foram feitos os tramites e fui encaminhada os INSS para dar entrada na papelada. Não tive nenhum problema, ninguém questionou nada. Posso dizer que fui até bem atendida.

Agora estava iniciando o período de convivência intensiva. Nós e ela. Muitas dúvidas, muitos anseios, muitos planos. Eu cheguei a fazer uma agenda de rotina de como poderia gerenciar meu tempo, o dela e a casa toda. Morro de rir de ver isso ainda cadastrado no celular.

Hoje, passado quase um ano da chegada da Tamires eu posso dizer abertamente que ela tomou o lugar central da minha vida. Todo meu foco é nela. Não me sinto culpada em precisar pedir alteração em horários de reunião, em precisar sair mais cedo ou chegar mais tarde as vezes e principalmente não me sinto menos profissional ou menos apaixonada por em, alguns momentos, estar no trabalho e desejar estar em casa com ela.

As vezes eu chego e ela já está dormindo. A primeira vez que isso aconteceu eu chorei baixinho no chuveiro me sentindo a pior mãe do mundo. Já tive que trabalhar final de semana, viajar. Fazer tudo que uma mulher que trabalha faz. Mas hoje não me sinto mais culpada por isso também. E desenvolvi uma relação da Tamires com isso. Ela sabe o nome do lugar onde eu trabalho, já levei ela até lá algumas vezes. Eu conto pra ela como foi meu dia. As vezes digo que tive uma reunião muito difícil, as vezes digo que um projeto foi aprovado e que fiquei feliz. Eu sempre digo pra ela que estou indo trabalhar e que isso é uma coisa boa porque a mamãe gosta do que faz, mas que a mamãe volta todo dia por que ama ela.

Outro dia cheguei em casa e ela estava sentada com todas as bonecas em volta e batucando em uma bandeijinha de plástico como se digitasse em um computador. Perguntei o que ela estava fazendo e ela disse: estamos trabalhando mamãe. Agora vou fazer uma reunião. Levantou e foi pra trás da porta. Ela disse que é onde fica a mesa dela. Morri de orgulho.

5 comentários sobre “Stop! A Licença Maternidade

  1. Oi Cris!
    São 00:30h e tô chorando de emoção!
    No fundo, tenho muito curiosidade para ver uma foto da Tamires mais sei que não é possível…
    Obrigada pelo carinho!
    Beijos

  2. Oi Cris,
    Acho que sei bem como vc se sentiu. Eu recebi o telefonema da Vara no meio de uma reunião e, por sorte, pois não é do meu costume, o celular estava no vibra call, mas em cima da mesa… Já sabia o que era e já atendi a chamada muito emocionada. As lágrimas rolavam e a pessoa que estava em reunião comigo ficou completamente preocupada com o que estava ocorrendo e com o meu estado… Lembro de cada segundo daquele dia!
    Meu marido diz que tivemos uma gravidez de 6 horas, pois foi o tempo de conhecer a Gabi e virar a Vara do avesso para conseguir tirar ela do abrigo no mesmo dia. Era 6 de setembro, véspera de um longo feriado.
    Tínhamos escolhido não prepara nada, pois o perfil era de 0 à 3 anos, menino ou menina, e não sabíamos o que viria pela frente. Além disso, não teria suportado conviver com um “quarto vazio” durante o 1 ano e 7 meses que esperamos pela chegada dela. Pensei: bom, teremos um final de semana para nos arrumarmos melhor… qual nada! Acho que estou me arrumando até hoje! rsrsrs É o maior aprendizado de vida, fora que era um sonho, o da maternidade, desejado há 15 anos.
    Eu sou micro-empresária e descobri que não tenho direito à licença maternidade… Fiquei pensando como é louco isso. Tudo depende de mim e será que não posso parar sem angústia e preocupações (?!)… mas todos, clientes e parceiros, compreenderam completamente o que aconteceu e me deram muito apoio. Na verdade, dão até hoje!!
    Há 3 dias essa história fez 1 ano.
    Hoje a nossa Gabi é o centro das nossas vidas, mas te confesso que ainda questiono um tando as minhas escolhas, apesar de me manter firme nelas. Optamos por não ter babá e tb não temos ninguém que trabalhe fixo em casa. A Gabi está na creche escola, mas quando fica doentinha e tem que ficar em casa, é um “Deus nos acuda”! rsrsrs Paro tudo e torço para tudo dar certo! rsrsrsrs
    Às vezes me acho um tanto doida, me pergunto se estou escolhendo o caminho mais difícil, mas o fato de não “terceirizar” com uma babá as coisas da Gabi, tem sido a nossa maior motivação. Compartilhar com ela e com o meu marido cada passinho, cada conquista, tem sido o nosso maior presente. A escola é pequena,aconchegante e muito humana e tem sido um grande diferencial no desenvolvimento da nossa estrelinha guia.
    Adorei o seu blog, já li dois posts, o primeiro foi o “Pede para sair”, que me foi enviado por um amigo de faculdade que tb é pai adotivo… daí fui dar uma volta e li este.
    Lindo os dois e sinto que irei navegar mais por estas águas… 😉
    Muito obrigada por compartilhar a sua história e da Tamires! E tb agradeço o carinho!
    Um forte abraço!
    Dani

    • Oi Dani,

      Adorei seu relato e fiquei muito feliz em conhecer sua história. É legal quando pessoas nos acolhem e nos apoiam em nossas escolhas respeitando a loucura que vira nossa vida quando o pequeno chega. Eu tb não tenho baba nem empregada e trabalho fora o dia todo, a Tamires fica na escola em tempo integral. As vezes tb me questiono, as vezes me sinto mal por ficar pouco tempo com ela. Mas tento fazer cada segundo valer a pena e passo os finais de semana cheirando aquele cangote mais gostoso do mundo. Somos mães que amam muito e tenho certeza que nossos filhos vão crescer com a certeza que estamos fazendo nosso melhor. Para o alto e avante! bjs

  3. Oi Cris e Age, uma colega de escola do Age (quando ele morava em Assis) me recomendou o blog de vocês quando soube que meu marido e eu havíamos entrado com a documentação para entrar no cadastro de adoção.
    Eu e meu marido temos acompanhado durante este ano os seus posts, muito emocionantes e esclarecedores. Nós moramos em Campinas e estamos agora na fase de seleção do perfil da criança, preenchendo o quastionário de 18 itens “complicados”em conjunto com a psicologa da Vara da Infância aqui de Campinas.
    Quando comentei com a psicóloga sobre o blog de vocês, ela achou interessantíssimo e nos pediu o endereço. Aqui em Campinas (apesar de ser a segunda cidade do Estado) não há grupo de apoio à adoção e ela vai indicar o blog para outros casais que estejam em busca de mais informações.
    Parabéns pela iniciativa!! Acho que realmente a causa é muito nobre e vocês tem fornecido informações e relatos muito importantes para apoiar as escolhas de muitas famílias!

    • Oi Martha, que legal!!!!
      Fico muito feliz que o blog esteja sendo útil. É pra isso que escrevo.
      Um abraço grande e muita luz nessa caminhada sua e do seu marido em direção ao filho de vcs.
      Grande abraço
      Cris

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